Será que todos os ciganos dançam da mesma forma?
Uma coisa em comum dentre todos os povos ciganos é a constante música e dança em suas vidas. Os ciganos bailam quando estão felizes, quando estão tristes, para celebrar e acima de tudo viver de forma plena sua liberdade. Com uma cultura tão diversa já era de se esperar vários estilos de dança não é mesmo? confira abaixo alguns dos diversos tipos de dança cigana!
Textos de Renata Saggioro Silva
Na dança, cada país por onde os ciganos passaram, deixou sua marca expressiva: no figurino, nos movimentos sempre firmes, fortes e desafiantes, representando sua dura jornada de enfrentamento, mas também de luta pela liberdade.
Descobrimos que os ciganos vieram da Índia. Lá, não encontramos uma dança milenar, mas uma dança mais atual, criada pelas ciganas indianas na época de 80.
A dança criada chama-se CEPERA, que significa “dança da serpente”, dançada pelas ciganas da tribo kalbellia, geralmente no deserto da região do Rajastão (país da Índia). A precursora da dança é a cigana Gulabi, que desde criança acompanhava seu pai nas apresentações das serpentes. Observando as cobras, tentava imitar seus movimentos dançando. Gulabi, criou essa dança e ensinou às mulheres da sua tribo, que hoje a divulgam pelo mundo e sua dança é reconhecida pela UNESCO como patrimônio imaterial dos ciganos da Índia.
Na dança, fazem muitas torções com o corpo e dão muitos giros. Usam guizos nos tornozelos para lembrar o som das serpentes e marcar os passos. Figurino com muitas cores, lenço grande na cabeça e muitas fitas nos braços.
Dança Cigana da Índia: Kalbellia
Dança Cigana Turca
Inicialmente era uma dança masculina, então também não usam saia em seu figurino. Usam geralmente um lenço bem enfeitado, parecido com turbante na cabeça. Algumas mostram a barriga, outras não. Na cintura, lenços (sem moedas).
As ciganas da Turquia fazem muitos movimentos, na dança, representando seu cotidiano, sempre com muito charme, força e delicadeza: lavar roupa, balançar o bebê nos braços, mexer a comida na panela, pegar enxada e capinar, enxugar o suor, entre outros. Além de muitos movimentos de ombro e quadril, já que se aproxima da dança cigana do Egito. (por conta da proximidade dos territórios).
A música turca é bem marcada, muito parecida com a música grega, e as batidas também são vistas e marcadas pela cigana durante sua dança.
Dança Cigana Egípcia: Ghawazee
Essa é uma dança bem mais antiga e tradicional. Pesquisadores “Orientalistas”, fizeram muitos registros em pinturas sobre a dança cigana do Egito, o que não necessariamente retratam a verdade.
As ciganas ghawazee (que significa “moças”), vieram de um grupo de ciganos chamados Nawar. Dançavam nas ruas, liam a sorte em conchas, cartas e mãos, faziam tatuagens de rhena, realizavam partos e circuncisões, eram contadoras de histórias e dançarinas. Também cantavam, tocavam e faziam shows de pirofagia. Andavam sempre em grupos.
Usavam snujs para dançar, um instrumento típico egípcio, muito utilizado hoje pelas dançarinas de dança do ventre. Parecem dois pratos de bateria pequenos, presos aos dedos.
Na dança cigana do Egito há muitas batidas de quadril, também alguns “pulinhos”, mexidas e tremidas de ombro e quadril. Mexem pouco os braços e mãos. Dançavam (dançam) descalças, com movimentos fortes nos quadris, por isso sempre usavam na cintura lenços. Seu figurino era composto por uma calça bem larga (tipo balão), blusas decotadas, uma espécie de turbante na cabeça, muitas joias.
Como de costume para com o povo cigano, também sofreram perseguições e, na época de Napoleão Bonaparte (1798), mais de 500 ghawazee foram decapitadas, com a “desculpa” de que distraíam os soldados. Quando o Imperador Mohamed Ali proibiu danças femininas nas ruas, muitas tiveram que se prostituir, pois era seu único meio de sustento.
Muitos confundem a dança cigana do Egito – ghawazee - com a dança do ventre. Isso é bem comum. O que vale saber é a dança é de origem cigana, foi evoluindo com o tempo, acrescentando-se instrumentos, movimentos e hoje é apresentada em muitos estabelecimentos e eventos, ora como dança do ventre, ora como dança cigana, tanto no Brasil como em outros países.
Dança Cigana da Russia
Essa é a mais famosa, mais conhecida, pelo seu figurino. São os ciganos que usaram sua cultura e sua dança para divulgá-la ao mundo, misturaram alguns passos do famoso ballet russo e a levaram para os palcos: giros, saltos, agachamentos...
Durante a dança, as ciganas abrem bem suas saias (como lindas “pavoas” a se exibir), usam sapatos, corpetes ou corselets, as mangas das blusas são cheias ou bufantes, com muito pano. São as ciganas exuberantes, que usam longas saias floridas, estampadas, coloridas, corpetes, cabelos esvoaçantes, soltos ou com enormes rosas. Também se enfeitam com muitos colares, pulseiras, brincos, anéis geralmente em ouro (dourados).
A imagem que temos de ciganos dançando ao redor de fogueiras, som de violinos, é a que vem dos ciganos da Rússia. Sua dança é dramática, teatralizada: usam seus corpos para exagerar nos movimentos, seja na música lenta (quando as ciganas usam muito os xales) ou nas danças mais animadas, quando usam muito suas saias e pandeiros.
Dança Cigana da Espanha
Dança Cigana no Brasil
A Espanha foi o último país por onde circularam os ciganos, na Europa. Somente depois vieram para o Brasil.
As ciganas que lá chegaram usavam a dança como forma de combate à violência: durante sua dança usavam muitos remelexos de quadril, batidas dos pés, movimentos com as mãos, como se “puxando” forças pra elas, cotovelos para fora.
No início dançavam descalças, depois a dança foi evoluindo e transformou-se no flamenco, com braços mais alongados, movimentos mais acadêmicos. Usam muito sapateado, castanholas, danças com leque e mantón (um xale bem grande). Possuem variados ritmos e bailados: fandangos, bulerias, farrucas, sevilhanas, rumbas. O grupo musical mais conhecido no mundo inteiro são os Gypsy Kings, que tocam muita rumba cigana.
Como figurino: usam saias mais justas e com menos pano (ou vestidos), flores no cabelo, coques, brincos e pouco ou nenhum colar e pulseiras. Geralmente de sapatos, porque fazem muitos sapateados, além dos palmeados. Usam mantóns (xales enormes), leques, castanholas e outros para bailar.
A dança cigana também trouxe influências da Hungria, Romênia, Grécia, Alemanha, França, região dos Bálcãs, entre outros países, mas foi somente na época da colonização do Brasil é que chegam aqui os primeiros ciganos, com o violão, a viola.
Geralmente não se declaravam ciganos quando aqui aportavam porque vinham fugidos das grandes guerras e conflitos em seus países, das perseguições e ameaças que lá sofriam, com a promessa de trabalho e liberdade que o Brasil oferecia. Então trabalhavam como ferreiros, músicos e cantores, e tudo o mais que sabiam fazer, inclusive a adivinhação (leitura de cartas, mãos, borra de café, entre outros).
Há bem pouco tempo existem pesquisas trazidas da Europa e dançarinas que divulgam as danças ciganas do mundo. Conhecemos a brasileira Saphyra, a francesa Simona Jovic e a americana Helene Eriksen (especialista em danças dos Bálcãs e Oriente), entre outras, e fomos estudando todas essas danças. Enquanto isso, conhecemos muitas criações, fusões, invenções.
A dança cigana, principalmente no Brasil, ainda é um misto de cultura e história, brilho, alegria, verdade e fantasia.
“O povo cigano toca, canta e dança na alegria e na tristeza, pois para eles, a vida é uma festa e a natureza que nos rodeia é a mais bela e generosa anfitriã. Não há idade para esse exercício de alegria: dance, solte seu corpo, ondule suas mãos e rodopie suas saias. Solte as amarras que você tem e liberte seu cração”.
Escrito por Miriam Stanescon, a primeira cigana brasileira a cursar universidade no Brasil e a conquistar, junto ao Presidente da República, em 2007, o Dia do Cigano no Brasil: 24 de maio.
Em Portugal, o Dia Nacional do Cigano é comemorado em 24 de junho e em 8 de abril é comemorado o Dia Internacional dos Ciganos (International Roma Day), que são a maior minoria étnica na Europa, cerca de 8 milhões de pessoas. O Dia Internacional dos Ciganos foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1971, por meio de ampla campanha liderada pelo ator americano cigano Yull Briner. (Wikipédia)
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Renata Saggioro. Trabalho de Conclusão de Curso em Aperfeiçoamento em Dança Cigana “DANÇA CIGANA E AMOR GITANO: uma viagem teórica e prática pelo mundo mágico dos ciganos através de suas danças: origem, história, costumes e suas marcas”. Espaço Saphyra de Dança. São Paulo, 2016.
Fotos: Acervo Grupo Amor Gitano e Google