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Afinal, quem são os ciganos?

“Eles deixaram a Índia. Alguns diziam em busca de um caminho pra se chegar ao Sol. Escutei de outros que eram filhos das grandes florestas e procuravam uma passagem para as minas de ouro do Rei Salomão. Outros falavam que vinham das terras de Espanha ou de Portugal. Cortaram o mar guiados pelo brilho das escamas de sereias, escondidos nas noites. Sem saber ao certo de onde vinham ou para onde iam, sei que os ciganos surgiam...”

 

            “Moldar e polir o cobre, amar o ouro e o sol, era a herança que o pai cigano passava para o filho, enquanto as meninas ouviam das mães os primeiros segredos das mãos.

            Mas na hora do crepúsculo, neste momento em que o mundo fica grande demais, esses meninos gitanos, sem receio de febre ou sereno, brincavam em volta das tendas.

            Sei que não falavam de prisões, roubos, medos. Deitados, inteiramente aninhados no capim fresco, escolhiam as suas estrelas guias. Não teciam dúvidas acerca da origem nem intrigas sobre o futuro. Eles eram ali, presentes, nômades, portanto proprietários do mundo por não estabelecerem limites.”

 

Retirado do livro “CIGANOS”, de Bartolomeu Campos Queirós

Ciganos é um exônimo para roma (em singular: rom, termo que, traduzido para o português, significa "homem") e designa um conjunto de populações nômades que têm, em comum, a origem indiana e uma língua (o romani) originária do noroeste do subcontinente indiano. Também são conhecidos pelos termos boêmios, gitanos, calons (no Brasil), judeus(em Minas Gerais), quicos (em Minas Gerais e São Paulo), calés e calós.

Essas populações constituem minorias étnicas em inúmeros países do mundo e são conhecidas por vários exônimos. O endônimo "rom" foi adotado pela "União Romani Internacional" (em romani: Romano Internacionalno Jekhetanipe) e pela Organização das Nações Unidas.

Na Europa, esses povos, de origem indiana e língua romani, são subdivididos em diversos grupos étnicos:

  • Rom (singular) ou roma (plural) propriamente ditos, presentes na Europa centro-oriental e, a partir do século XIX, também em outros países europeus e nas Américas;

  • Sinti, encontrados na Alemanha, bem como em áreas germanófonas da Itália e da França, onde também são chamados manoush;

  • Caló, os ciganos da península Ibérica, embora também presentes em outros países da Europa e na América, incluído o Brasil.

  • Romnichals, principalmente presentes no Reino Unido, inclusive colônias britânicas, nos Estados Unidos e na Austrália.

Além de migrarem voluntariamente, esses grupos também foram historicamente submetidos a processos de deportação, subdividindo-se vários clãs, denominados segundo antigas profissões e procedência geográfica, que falam línguas ou dialetos diferentes.

Segundo um estudo feito pela revista Current Biology, a diáspora dos ciganos começou há 1 500 anos no Noroeste da Índia.

Rotas migratórias do povo cigano pela Europa

Os roma originaram-se de populações do noroeste do subcontinente indiano, das regiões do Punjab e do Rajastão, obrigadas a emigrar em direção ao ocidente, possivelmente em ondas, entre c. 500 e c. 1000 d.C.. Iniciaram a sua migração para a Europa e África do Norte, pelo planalto iraniano, no século XI, por volta de 1050. A saída da Índia provavelmente ocorreu no contexto das invasões do sultão Mahmud de Ghazni (região do atual Afeganistão).[28] Mahmud fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam. Segundo o antropólogo José Pereira Bastos, professor da Universidade Nova de Lisboa, no inverno de 1019 - 1020, o sultão saqueou a cidade sagrada de Kannauj, que era então "uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando milhares de pessoas, e vendendo-as em seguida aos persas". Estes, por sua vez, venderam os prisioneiros como escravos na Europa. No Leste Europeu, cerca de 2300 deles foram para a zona dos principados cristãos ortodoxos da Transilvânia e da Moldávia, onde foram convertidos em escravos do príncipe, dos conventos e dos latifundiários.

Por volta do século XI, a língua romani já apresenta claros traços de línguas indo-arianas modernas.

Já no século XIV, devido à conquista territorial e política de estados indianos, muitas caravanas rom partiram para a EuropaOriente Médio e Norte da África. É a segunda onda migratória que os roma denominam Aresajipe. Um primeiro grupo tomou rumo oeste e atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, adentrando o Império Bizantino e chegando à SíriaEgito e Palestina.

Na Europa, em razão de clivagens internas e da interação com as várias populações europeias, os roma emergiram como um conjunto de grupos étnicos distintos, dentro de um conjunto maior. Alguns desses grupos foram escravizados nos Bálcãs, no território da atual Romênia, enquanto outros puderam se movimentar, espalhando-se principalmente pela HungriaÁustria e Boêmia, chegando à Alemanha em 1417. Em 1422 chegam a Bolonha. Em 1428, já havia ciganos na França e na Suíça. Em 1500, surgiram os primeiros ciganos ingleses.

A terceira onda migratória deu-se entre o século XIX e início do século XX, da Europa para as Américas, após a abolição da servidão na Europa Oriental, entre 1856 e 1864. Alguns estudiosos apontam, ainda, a ocorrência de uma outra grande migração, proveniente da Europa Oriental, desde a queda do Muro de Berlim em 1989.

A migração dos ciganos para o Brasil é antiga: a documentação conhecida indica que sua história no Brasil iniciou em 1574, quando o cigano João Torres, sua mulher e filhos foram degredados para o Brasil. Em Minas Gerais, a presença cigana é nitidamente notada a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal. No Brasil, estudos demonstraram a existência de ciganos de pelo menos dois grupos: os Calon que migraram para o país desde o século XVI, e os Rom que, de acordo com as indicações, migraram para o somente a partir de meados do século XIX.

Perseguições

Durante as perseguições do século XV, contra judeus e muçulmanos, começa também a caça aos ciganos. Segundo o antropólogo José Pereira Bastos, professor da Universidade Nova de Lisboa, "eram considerados vagabundos e delinquentes. Na Alemanha e nos Países Baixos, eram exterminados a tiros por caçadores pagos por cabeça. Na Europa, o propósito de extermínio dos ciganos sempre foi muito claro".[29] Os anos de 1555 e 1780 são particularmente marcados por atos de violência contra os ciganos, em vários países.

A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não permitia que fossem reconhecidos como grupo étnico bem individualizado, ainda que por longo tempo tenham sido qualificados como egípcios. O clima de suspeitas e preconceitos se percebe no florescimento de lendas e provérbios tendendo a pôr os roma sob mau prisma, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Caim, e portanto, malditos. Difundiu-se, também, a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Jesus (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando, assim, mais dolorosa a crucificação). Caracterizados pelo nomadismo, o modo de vida dos ciganos e suas condições de subsistência são sempre determinados pelo país em que se encontram: os mais ricos são os ciganos suecose os mais pobres encontram-se nos Bálcãs e no sul da Espanha.

Embora mantendo sua identidade, em alguns aspectos os roma revelam grande capacidade de integração cultural: sempre professam a religião local dominante, da mesma forma que suas danças, músicas, narrativas e provérbios manifestam a assimilação da cultura no meio em que vivem. Sua capacidade de assimilar a música folclórica permitiu que muitas peças fossem salvas do esquecimento, principalmente as do Oeste Europeu. Excluindo as publicações soviéticas sobre o assunto, existem apenas nove livros escritos em romani.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), entre 200 000 e 500 000 ciganos europeus teriam sido exterminados nos campos de concentração nazistas. Entre os roma, o massacre é denominado de porajmos e começou a ser recuperado pela historiografia apenas a partir dos anos 1970.

No dia 2 de abril de 2009, o presidente do Parlamento EuropeuHans-Gert Pöttering, recebeu um prêmio pelo trabalho desenvolvido pelo Parlamento Europeu na defesa dos direitos da comunidade rom na Europa. O prêmio foi entregue por representantes das principais organizações europeias, em nome da comunidade rom, antes do Dia Internacional dos Roma, que se celebra no dia 8 de abril. Dos 12 a 15 milhões de roma que vivem na Europa, 10 milhões vivem em Estados-Membros da União Europeia, a maioria dos quais adquiriu a cidadania europeia com o alargamento de 2004 e a adesão da Romênia e da Bulgária em 2007.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciganos

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